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O instrumento por quem o faz

Toda orquestra que se preze tem, por trás dos instrumentistas, grandes professores, coordenadores e maestros. No entanto, existe ainda outro profissional importante, embora menos conhecido, principalmente no Brasil, onde a música clássica ainda não se popularizou em todas as esferas sociais. Atuando nos bastidores, ele desempenha uma função que faz toda a diferença na hora da orquestra subir no palco. Os luthiers são responsáveis pela manutenção, conserto e até pela fabricação de instrumentos musicais.

A profissão é antiga. Indícios apontam que tenha surgido entre os séculos 15 e 17 na fase do Renascimento Cultural na Europa. A palavra tem origem do francês, Luth, que significa alaúde, em português – instrumento musical bastante popularizado na Europa, naquela época. A partir do alaúde, surgiu uma vasta gama de outros instrumentos de corda, que se desenvolveram e ganharam popularidade. Entre eles, encontram-se desde os mais tradicionais – como violão, viola e bandolim – até os mais modernos – como guitarra e baixo elétrico.

Até então, na Europa da Idade Moderna, os instrumentos que surgiam eram de cordas dedilhadas. Ou seja, eles produziam o som através do toque dos dedos. Mais adiante, surgiram instrumentos mais complexos, que são os de arco ou de cordas friccionadas. Para tocá-los, é preciso usar um arco que, em contato com as cordas, produz sonoridade. É o caso dos violinos, violoncelos e contrabaixos acústicos, típicos de uma orquestra.

O ofício dos luthiers, portanto, acabou se dividindo em dois segmentos – aqueles que produzem instrumentos de corda e de arco. Este último grupo de instrumentos ainda acabou gerando uma profissão à parte. Trata-se do archetier, que é o responsável por produzir os arcos, muito embora alguns luthiers também exerçam a função. O principal berço dos instrumentos de arco era na França e, especialmente, na Itália. A cidade italiana de Cremona, desde a efervescência renascentista até hoje, é referência em lutheria – a arte de construir instrumentos musicais. Foi lá que surgiram luthiers de fama internacional, como Stradivarius e Guarnieri, no século 18. Da Itália, também migraram luthiers para o Brasil, como Di Giorgio e Giannini, fabricantes de violão bastante populares desde o século 20.

O OFÍCIO NA ORQUESTRA CRIANÇA CIDADÃ

Por trás do auditório da Escola de Música Maestro Cussy de Almeida, uma porta esconde outro mundo da música. Lá funciona a oficina dos luthiers da Orquestra Criança Cidadã, onde trabalha José Maria Cavalcanti. Com apenas 21 anos, José Maria, que trabalhava com restauração de documentos antigos em Caracas, na Venezuela, se mudou para a Itália para estudar lutheria. “Deixei tudo o que eu tinha, fui só com a cara, a coragem e dois mil dólares no bolso. Só”, conta o luthier. Chegando lá, fez o curso de lutheria em Parma, onde fabricou seus primeiros instrumentos. Depois de quatro anos de curso, voltou para o Brasil e passou oito anos sem exercer a profissão, até ser convidado para trabalhar com os Meninos do Coque. Para José Maria, a lutheria é um ofício importante, mas que tem pouco reconhecimento. “No Brasil, existe lutheria, principalmente no Sul. Mas não é algo muito comum. Quando morei em Cremona, em cada esquina tinha uma lutheria. Era como farmácia aqui” diz.

João Batista é o outro luthier da Orquestra Criança Cidadã. Natural de São Joaquim do Monte, interior de Pernambuco, João Batista cresceu vendo o tio construir rabecas. Mas seu caso de amor com a música só surgiu anos mais tarde. O interesse o fez não só querer tocar os instrumentos, como também fazê-los. “Comecei trabalhando na calçada. Eu tinha uns 21 anos. E a paixão foi crescendo cada vez mais”, afirma ele. O mais intrigante é que Seu Batista, como é mais conhecido, é autodidata. “Gostava muito de observar, escutar... A partir daí, a paixão foi aumentando, e eu fui aprendendo”, diz ele.

Depois de construir a primeira rabeca, o luthier não parou mais. Fabricou violinos, violoncelos, violões, contrabaixos e até arcos. Trabalhou para músicos famosos, no Conservatório Pernambucano de Música (CPM) e nas Orquestras Sinfônica de Pernambuco e da Bahia. Seu Batista relembra de grandes pessoas e amigos que o ajudaram muito em sua jornada. “Sou muito grato a Cussy (de Almeida, maestro falecido da Orquestra Criança Cidadã). Ele me incentivava muito. Foi através dele que conheci o cônsul da Alemanha, pra quem fiz alguns instrumentos. Otto Schmidt foi outro que também me ajudou muito. Com o livro que ele me deu, eu consegui fazer meu primeiro violino. Mesmo sem saber alemão, eu observei as figuras, as medidas e fiz. Nunca tive dificuldade alguma nessa arte, porque todo mundo que eu encontrava no caminho me ajudou”, disse João Batista, que já teve, inclusive, seus momentos de fama – foi o primeiro luthier no mundo a construir um violino todo em pau-brasil.

Segundo ele, o instrumento é seu xodó. “Já teve gente querendo comprar, mas eu não vendo, é meu cartão de visita. Estou fazendo o segundo agora, mas já tenho três compradores”, diz ele, entre risos.

CURIOSIDADES

• As melhores madeiras para se fazer um instrumento de arco, como um violino, são o ácero – tipo de pinho europeu – e o abeto – que nasce nos Bálcãs. Algumas madeiras nacionais também são boas, como a araucária, o louro e o ipê-tabaco.

• O arco é composto de duas partes básicas: a de madeira, onde o músico o segura – preferencialmente, feito de pau-brasil – e as fibras que friccionam as cordas, que são crinas de cavalo – as melhores são provenientes da Mongólia, país da Ásia central.

• Os violinos Stradivarius e Guarnieri foram construídos por volta do século 18. Hoje, além de raros, são os mais caros do mundo. Em 2006, um Stradivarius foi arrematado em Nova York por US$ 3,5 milhões. Em 2008, um magnata russo ultrapassou a marca anterior para comprar um Guarnieri, num leilão em Londres. O valor não foi revelado, mas estima-se que tenha passado dos US$ 4 milhões .

• Cussy de Almeida foi o primeiro brasileiro a adquirir um violino Stradivarius, em 1974.

• Di Giorgio foi um dos luthiers mais importantes do Brasil. Tendo o violão como seu forte, teve instrumentos nas mãos de músicos como João Gilberto, Roberto Carlos, Baden Powell, Vinícius de Morais e Tom Jobim.

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