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O som da liberdade

Inspiradas pelos ideais da Revolução Francesa, “liberdade, igualdade e fraternidade”, a vida e obra do compositor e pianista alemão Ludwig van Beethoven firmou-se nesse lema, especialmente o de ser livre. Até quando o compositor perdeu o sentido mais precioso para ele, a audição, resistiu fortemente a uma das maiores prisões do ser humano, a mente, compondo a Nona Sinfonia, considerada obra de grande valor para a música.

Na infância, mesmo não tendo se aprofundado nos estudos, Beethoven era um talentoso pianista. Seu pai, Johann van Beethoven, fazia de tudo para que o filho aperfeiçoasse o dom. A disciplina era rígida: o garoto estudava música com o organista da corte de Bonn – cidade alemã onde eles viviam –, Christian Gottlob Neefe. Até de madrugada, Johann acordava Beethoven para tocar piano.

O jovem músico começou a trabalhar aos 11 anos como pianista, cravista e professor para sustentar a família. O pai estava mergulhado no alcoolismo. Um tempo depois, Beethoven obteve o posto de organista na orquestra do príncipe Maximiliam Frederick. Também escrevia obras para a nobreza local. Foi quando conheceu o conde Waldstein, que lhe incentivou a viajar a Viena para tomar aulas de música com o famoso compositor Joseph Haydn, em 1792. “Sob tutela de Haydn, Beethoven aperfeiçoou a técnica de contraponto, mas estudou ainda violino com Ignaz Schuppanzigh e contraponto com o grande mestre Johann Albrechtsberger”, conta o professor de História da Música do Conservatório Pernambucano, Sérgio Barza.

Em Viena, Beethoven passou pouco tempo como aprendiz de Haydn. Existia uma diferença musical entre eles, apesar de ambos se respeitarem como profissionais. Enquanto Haydn era influenciado pelo estilo clássico, o alemão também mostrava, em suas composições, características do período romântico, ousando e inovando na forma e na harmonia. “Beethoven é a transição entre o clássico e a época romântica. A linguagem clássica já estava definida quando ele começou, e ele utilizou-a magistralmente. A partir daí, incorpora a estética do Romantismo. A liberdade de forma, por exemplo, foi influência do movimento literário Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto)”, contextualiza Barza.

A vida profissional e financeira de Beethoven melhorou muito nessa época. Ele fez cursos de literatura, encantou-se com os ideais da Revolução Francesa e com os escritores do Romantismo, Goethe e Friedrich Schiller – este último, um de seus grandes amigos. A nobreza o estimava como intelectual e sempre desejava a companhia do músico nas conversas, ignorando um caráter irritadiço e pouco formal.

Apesar de suas composições serem inovadoras e, às vezes, pouco entendidas pelo público da época, as pessoas reconheciam o talento excepcional de Beethoven na música, principalmente como pianista. “É justo dizer que ele sempre foi respeitado por seus contemporâneos, quer entendessem ou não as obras dele. Muitas de suas composições obtiveram sucesso. Beethoven alcançou um reconhecimento igual ao de Goethe”, explica o professor.

O compositor alemão iniciou uma série de apresentações. Diversos músicos importantes da época começaram a lhe procurar pedindo conselhos. Mas, aos 26 anos, os primeiros sinais da surdez assustaram Beethoven. Ele tentou esconder o diagnóstico de congestão dos centros auditivos da sociedade. Entretanto, a incapacidade de ouvir avançava e, mesmo tentando várias formas de tratamentos, não obteve a cura para a deficiência. No Testamento de Heilingenstadt, carta que escreveu aos irmãos Karl e Johann, em outubro de 1802, quando se tratava nessa aldeia, Beethoven falou da sua dor. “[...] E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando, ao meu lado, alguém percebia o som longínquo de uma flauta, e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor, e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero, e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou!”

Mesmo com a perda auditiva, o que ocasionou graves consequências para o psicológico do pianista, Beethoven não desistiu da música. Durante essa época, ele compôs grandes obras clássicas e acabou revelando a impossibilidade de ouvir. “É uma herança romântica pensar que a surdez foi o estopim das obras-primas de Beethoven. Elas têm esse status pela elaboração refinada, equilíbrio e pelas inovações. Prefiro pensar que a surdez foi uma fatalidade, e que seu estilo se desenvolveria com ou sem ela”, argumenta Barza.

Mesmo sabendo da surdez de Beethoven, a sociedade passou a admirá-lo pelas suas composições, como a Quinta Sinfonia, as sonatas para piano, Variações Diabelli e Missa Solene e os quartetos de cordas. O grande triunfo culminou com a Nona Sinfonia, apresentada pelo compositor em maio de 1824, quando foi aclamado pela plateia. Três anos depois, a saúde de Beethoven sofreu graves complicações. No dia 26 de março de 1827, ele faleceu.

Beethoven, ao lado de outros grandes compositores, como Mozart e Bach, são nomes da época de ouro da música do século XIX. Eles deixaram grandes obras para a posterioridade, que permanecem ainda hoje nos recitais, rádios e até no atual mp3. Compositores como Beethoven são imensos. A audição ou a performance de uma obra por ele assinada são sempre algo novo, pois sempre trazem aspectos ou detalhes que renovam a experiência perceptiva”, completa o professor Barza.

Curiosidades

-Foram a nobreza vienense e da corte de Bonn que financiaram as despesas de Beethoven na Viena e em outras viagens.

- Muitos dividem a obra de Beethoven em três períodos:

O inicial – com influências de Haydn e Mozart, dentro da linguagem clássica, até 1802. Apresenta as duas primeiras sinfonias, os dois primeiros concertos para piano, os seis primeiros quartetos e a Sonata Patética como destaques.

O intermediário ou heróico – definido entre 1803 a 1814, traz as obras que refletem a luta e o heroísmo, por causa da vontade de afirmação e pela crise pessoal do compositor com a surdez que o afligia. São dessa época algumas das mais famosas sonatas para piano, Waldstein, Appassionata e Sonata Ao Luar, a Sonata para violino e piano Kreutzer e sua única ópera, Fidelio.

O período final – começa em 1815, com obras mais elaboradas e profundas, técnica e filosoficamente. São as peças mais inovadoras e pessoais, como a Nona Sinfonia, a Missa Solemnis, os quatro últimos quartetos e as últimas sonatas, incluindo a monumental Hammerklavier.

- Se não fosse a surdez, Beethoven teria sido intérprete por mais tempo. O recolhimento permitiu-lhe o refinamento de um estilo pessoal. A superação e o heroísmo faziam parte de um espírito da época, e Beethoven incorporou esse espírito e adaptou-o às suas dificuldades.

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