Morador da comunidade do Coque, no Recife, e um dos seis filhos do casal Francisco Zumba Monteiro e Flávia Ferreira, o jovem músico Fagner Zumba, 20 anos, foi a revelação da Orquestra Criança Cidadã no vestibular UFPE 2012. O destaque não veio apenas da aprovação no vestibular mais concorrido de Pernambuco — os caminhos que levaram Fagner até a conquista chamam ainda mais atenção.
O estudante não viu o nome na primeira lista de classificados, mas o fato não o impediu de ter esperança. Selecionado no remanejamento, Fagner não consegue descrever o sentimento de felicidade por saber que iria realizar o sonho de ser universitário. A preparação do aluno contou com aulas no Colégio Panorama, através de uma parceria com a Orquestra. Já os estudos musicais, testados na prova prática, tiveram tutoria dos professores João Pimenta e Janayna Mendes, além do maestro Lanfranco Marcelletti.
Fagner entrou na Orquestra aos 15 anos, em 2006, logo no início do projeto. Ele estudava na escola pública Leonardo de Barros Barreto e já se destacava entre os alunos. Por esse motivo, o diretor do colégio o indicou para fazer a seleção da Orquestra, quando foi testado em canto e ritmo musical — para entrar no projeto, é necessário passar pela avaliação, que verifica a predisposição para aprender música. Nas primeiras semanas, o jovem iniciou o aprendizado em violino, mas, por ser o mais alto da turma, foi encaminhado, pelo maestro Cussy de Almeida, regente na orquestra na época, para o contrabaixo.
Fagner foi o primeiro aluno do instrumento na Orquestra Cidadã. “No começo, eu não gostava muito do contrabaixo, só mais ou menos, mas, um ano depois, eu comecei a me interessar”, conta. O professor João Pimenta deu os primeiros passos musicais com o garoto. “Ele tinha muita facilidade para aprender, pegava as músicas muito rápido. A única dificuldade era controlar o arco. Não segurar firme fazia com que ele desafinasse algumas vezes. Mas, como ele era muito estudioso, compensava as dificuldades”, afirma Pimenta.
O adolescente e a família não passavam por grandes problemas financeiros. O pai, inicialmente auxiliar de pedreiro, começou, pouco após, a trabalhar como vigilante. Os maiores monstros que perseguiam os meninos que moravam no Coque eram mesmo a violência e as drogas. O contrabaixista teve uma vida difícil, exposto à marginalidade que envolveu um dos irmãos mais velhos, que, inconformado com a realidade em que vivia, começou a roubar. Este, ainda menor de idade, foi preso pela primeira vez, cumpriu medida socioeducativa e foi liberado.
Tempo depois, o irmão de Fagner esteve preso novamente por porte de arma e, ao sair, foi assassinado. A companheira, grávida de gêmeos na época, também foi baleada e perdeu os bebês. Sobreviveu. “Minha família ficou muito abalada. Nesse momento, eu tive vontade de desistir de tudo e me vingar. Mas, pelos meus pais, eu prometi, no velório do meu irmão, que seria alguém na vida e que não iria seguir o mesmo caminho que ele seguiu”, explica. Os momentos de lembrança dolorosa e saudade vêm quando Fagner executa o 2º movimento de Serge Koussevitzky. Essa era a música que o irmão mais gostava de ouvi-lo tocar.
Apesar de todas as dificuldades, Fagner não desistiu. Ele conta como a mãe não o deixava sair para lugares distantes. Do mesmo modo, não podia voltar tarde para casa — tudo isso por medo que o filho entrasse no mundo do crime. “Às vezes, eu ficava chateado, meus amigos ficavam me zoando, mas hoje eu agradeço muito por ela ter feito isso. Eu poderia estar usando drogas ou roubando se minha mãe tivesse me deixado na rua”.
A relação entre professor e aluno é essencial para o aprendizado. Na Orquestra, não foi diferente. Fagner diz que todo o apoio que precisa pode encontrar no professor João Pimenta. “Ele é como um pai para os alunos de contrabaixo. Quando estamos certos, ele nos defende; quando erramos, nos dá lições de moral. Ele é nossa inspiração”.
O jovem músico reconhece que se não estivesse na Orquestra Cidadã, nada do que ele conquistou teria sido possível. O pensamento sobre cidadania e ética mudou. “Respeitar as pessoas foi um coisa que eu passei a dar valor depois que entrei na Orquestra. Antes, eu não ligava muito para isso”. Fagner, agora, pensa no futuro. Quer estudar bastante, formar um quinteto para se apresentar em eventos e, quem sabe, tocar nas grandes Orquestras, como a Filarmônica de Berlim ou Granada. Ele também deseja propiciar uma vida melhor para a família. “Quero ser o melhor músico. Não vou baixar a cabeça diante das dificuldades ou das pessoas que não acreditam no meu esforço.”
CURSO DE PERCUSSÃO ERUDITA EM BRASÍLIA
Aperfeiçoar as técnicas e aprender novas teorias são ações importantes para a carreira musical. Com esse pensamento, a Orquestra Criança Cidadã, através do maestro Lanfranco Marcelletti, apoiou a participação dos alunos João Carlos Oliveira, Diógenes Saraiva e José Emerson nas aulas de Percussão Erudita do 34º Curso Internacional de Verão do Centro de Educação Profissional da Escola de Música de Brasília. O curso ocorreu dos dias 4 a 21 de janeiro.
A capacitação reuniu estudantes de vários estados brasileiros, além de movimentar o cenário cultural da capital do País. Os garotos da Orquestra tiveram aulas com o renomado professor Miquel Bernardes e se depararam com novas técnicas musicais. “Nós aprendemos formas diferentes de usar a baqueta e vimos algumas peças musicais de percussão erudita”, explica Diógenes.
Sobre a participação no curso, o aluno diz que foi uma oportunidade única. “A estrutura foi muito boa. Em 2011, o curso era pago. Este ano, as inscrições foram gratuitas, e não podíamos ficar de fora”, diz. Segundo o percussionista, tudo que foi visto no curso pode ser adaptado para as peças executadas junto à Orquestra Criança Cidadã.
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