No último domingo, fui à missa na capela de Nossa Senhora das Graças e, novamente, vi um garoto, de aproximadamente 10 anos, que costumeiramente me chama a atenção por transmitir uma alegria de viver difícil de encontrar no nosso dia a dia. Vejo sempre aquele menino ajudando no ofertório da missa, e, na verdade, esse garotinho com síndrome de down me encanta por demonstrar uma felicidade incrível em participar ativamente da vida em sociedade.
O exemplo do garotinho sempre me emociona. De fato, penso que esse exemplo é uma das formas mais importantes de inclusão, ou seja, sentir-se fazendo parte, em igualdade de condições, da vida em sociedade. Esse menino fez-me lembrar da missão que recebi em 2011 quando retornei ao trabalho após o período de reabilitação física em São Paulo.
Naquela ocasião, receava que meus antigos parceiros de trabalho me olhassem diferentes, já que eu estava paraplégica, e que não me impusessem desafios compatíveis com as minhas capacidades. Mas o tempo e a minha determinação foram mostrando, aos meus colegas, que, apesar de estar na cadeira de rodas, eu continuava a mesma, e nada podia me deixar mais feliz do que continuar a contribuir, com o meu trabalho, para a vida em sociedade.
Quis o destino que eu assumisse a coordenação de um projeto para a construção de uma Escola de Música e da Sala de Concertos da Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque.
Eu já tinha ouvido falar sobre o projeto social da Orquestra Criança Cidadã, mas conhecia pouco sobre o mesmo; sabia, apenas, que era um projeto com música e com crianças do Coque, um bairro superviolento de Recife, mas precisava conhecer mais e melhor esse projeto. Decidi, então, ir ao Quartel do Exército do Cabanga, onde funciona a orquestra, e conhecer de perto aqueles meninos músicos.
Lá, deparei-me, inicialmente, com um garoto de 10 anos sentado embaixo de uma árvore a tocar lindamente um violino; mais adiante, vi uma garotinha de sete anos carregando o seu instrumento e indo rapidamente em direção à sala de aula; cheguei, então, a um pequeno auditório, no qual escutei belíssimas músicas, interpretadas pela Orquestra Criança Cidadã, de Luiz Gonzaga, Gardel, Pixinguinha e Vivaldi.
Surpreendeu-me que aquelas crianças e adolescentes tão talentosos e disciplinados eram oriundos do Coque, uma das comunidades com menor IDH do Recife, e que, agora, tinham mais do que uma oportunidade — estavam completamente inseridas socialmente por meio da música.
Para quem não conhece o Coque, no Recife, infelizmente essa é uma região estigmatizada pela violência, pela alta taxa de desemprego, pelas construções precárias, pelas numerosas famílias miseráveis. Isso sem mencionar a prática de receptação de objetos roubados, prostituição de menores, gravidez na adolescência, evasão escolar e alto índice de analfabetismo, num ambiente de devastadora desestruturação familiar, num universo de mais de 40 mil habitantes.
É uma daquelas regiões à margem da margem e que necessitam de uma ação modificadora. Em meio a esse ambiente inóspito, o projeto da Orquestra Criança Cidadã direciona seus alunos para a cidadania, dando-lhes uma profissionalização musical e, por conseguinte, uma vida social digna, bem diferente da que possuem atualmente.
Nesse cenário, a Orquestra acaba contribuindo também para a segurança pública da área e da cidade, posto que a marginalidade da comunidade do Coque causa terror em toda a área urbana do Recife, na medida em que esse projeto social colabora com o rompimento do ciclo de criminalidade que permeia a comunidade do Coque e inspira os jovens e crianças a pensarem em si mesmos como detentores de muitas potencialidades.
Foi por esse motivo que, naquela ocasião, apaixonei-me pelas ideias e pelos sonhos de ampliar aquele tão importante projeto de inclusão social. Tomei, como minha, aquela missão que a Odebrecht Infraestrutura e que a Orquestra Criança Cidadã me confiaram.
Atualmente, a Escola de Música da Orquestra Criança Cidadã ocupa salas adaptadas no 7º Depósito de Suprimentos do Exército (DSUP), o que é uma ação de solidariedade do Exército gratificante para todos nós. As instalações atuais oferecem abrigo e oportunidade aos alunos, mas têm limitações técnicas para o processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, além da necessidade de expansão do projeto, que, hoje, possui 160 alunos e será ampliado para 300 alunos na nova sede. Ou seja, a Escola atualmente tem uma instalação provisória.
A instalação planejada para a Nova Sede da Escola de Música da Orquestra Criança Cidadã e para a Sala de Concertos Criança Cidadã, com capacidade para 816 pessoas e que será a Primeira Sala de Concertos Totalmente Acústica do Norte e Nordeste, será realizada numa área estigmatizada, o que representa a confirmação e comprometimento de toda a sociedade pernambucana com o desejo de mudança. Ademais, não faltam exemplos ao redor do mundo da capacidade modificadora desse tipo de projeto, seja para os usuários, seja para o sítio urbano em que estão inseridos.
Nesse cenário de inclusão e de ativadores da força modificadora da sociedade, juntaram-se, à Orquestra Criança Cidadã e à Odebrecht Infraestrutura, parceiros fortes e solidários a essa causa justa e necessária. Destacamos o BNDES, a Odebrecht Realizações Imobiliárias, a Cósmica Entretenimento, o arquiteto Carlos Fernando Pontual, o arquiteto José Augusto Nepomuceno, os projetistas Bernardo Horowitz e Carlos Calado, o projetista de instalações Eliel Rômulo, o arquiteto especialista em cozinhas Antônio Figueiredo. Eles doaram seu trabalho ao elaborarem excelentes projetos, que proporcionaram a aprovação, pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, do Projeto da Escola de Música e da Sala de Concertos.
Todos esses agentes em conjunto promoveram a criação de um lindo sonho, que agora está bem perto de se tornar realidade: o sonho de ampliar o projeto da Orquestra Criança Cidadã, que contribui para retirar as crianças das ruas oferecendo uma perspectiva de profissionalização e inserção social por meio da música.
Não por acaso, as atividades ligadas à música envolvem superação, descobertas, trabalho solitário e em grupo, para finalmente receberem aplausos e consagração que raramente são recebidos por esses meninos em outras condições.
Aplausos que merecem o projeto e seus alunos, que, em apenas sete anos de existência, já possui seis rapazes oriundos da Orquestra hoje fazendo parte da Orquestra Sinfônica de Goiânia, aprovados em primeiros e segundos lugares naquele concurso público. Impressiona também saber que mais dez integrantes da Orquestra hoje cursam o ensino superior na UFPE e na Aeso, e outros quatro que tiveram e têm a oportunidade de estudar música com bolsas de estudo na Europa.
Isto posto, findo esse artigo com a seguinte reflexão de Pitágoras: “Educai as crianças e não precisarás punir os homens”.
Eis o nosso sonho!
Editorial - Uma Nova História Começa a Ser Escrita
Espaço Criança Cidadã – Uma Vida Dedicada ao Trabalho Social
Coordenação Pedagógica - Motivação educacional é novo lema
Palestra - Pedro Mariano Visita Orquestra
Eitiqueta Musical - Por dentro de todos os movimentos
Mérito - Nildo Nery é homenageado em Goiana
Competição - Esporte para ressocializar
Ensino - Reforço escolar sob nova direção
Inédito - Violinos e Guitarras no Mesmo Palco
Superação - Meninos do Coque em Goiás
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